sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Empréstimos, Investidores e Figurões

Todos os anos mais ou menos a meio do campeonato, quando se abre a chamada janela de transferência dos mercados futeboleiros, descobre-se a real situação dos planteis. Basta levantar a carpete onde durante os meses anteriores se escondeu o lixo adquirido no início da época, e as falsas promessas vem todas à tona. Depois é preciso varrer.
 
A BOLHA, o pasquim oficial da “instituição” que há dezenas de anos engana os sócios e adeptos, deu gritos de alegria pelas vendas mirabolantes de 3 jogadores, um deles, Matic por metade da cláusula de rescisão. No total esta temporada desde 1 de Julho de 2013 até 31 de Janeiro de 2014, aquele clube/SAD de um lote inicial de 104 jogadores “cedeu” cerca de 30 (a maior parte emprestados) e recebeu outros tantos.
Por isso, quer nos Orçamentos apresentados no início da temporada, quer nos RC de fim-de-ano, fala-se de receitas “extraordinárias” já que, na sua essência, os clubes não foram criados para servir de entreposto na compra, venda e hipoteca de jogadores. E é mesmo de Casas de Penhores que se trata quando verificamos quem ajuda a vender os barretes importados ano-após-ano que se acotovelam nas imparidades das Contas da SAD. Estamos a falar nos Fundos de jogadores.
 
O seu funcionamento é muito simples. Um grupo de investidores cria uma sociedade por quotas onde por vezes, como acontece com o clube da treta, a própria SAD é sócia. A sociedade é gerida, não pela SAD como diz o aldrabão do Dia Seguinte, mas por uma comissão de gestão que analisa quais os atletas que lhe podem interessar, por quanto os deve avaliar, e quando e por quanto, os deve vender. No seu Regulamento pode ler-se:
A SAD, que no caso em apreço apenas tem uma participação de 15%, não abre o bico. Ou aceita e faz-se o negócio, ou se achar que o atleta vale mais, tem a opção de compra pelo valor que acha que vale. O Fundo adianta à SAD a quantia pelo qual avaliou o jogador e fica à espera da parte mais interessante da operação, as mais-valias. O jogador fica “preso” ao Fundo, até que apareça um “cliente” que ofereça um valor maior, senão, como bom gestor, não dá ordem para efetuar a venda.
 
Além disso, os participantes obrigam-se (Art.º 26.º) a
 
(a) Aceitar os documentos constitutivos do Fundo, aceitando inequivocamente todo o seu conteúdo;
 
(b) Mandatar a Entidade Gestora para a realização de todos os atos de administração do Fundo;
 
(c) Cumprir com quaisquer obrigações legal ou regulamentarmente previstas.
 
NOTA – Este Fundo caduca no dia 30 de Setembro de 2014, poderá ser reformulado mas, a UEFA, estuda a possibilidade de proibir que passes (ou partes de passes) de jogadores estejam na posse de Fundos de Investimento.
 
Este ano apareceu uma novidade: Pelo facto do Benfica Stars Fund estar carregado de atletas, e provavelmente já não ter espaço nas prateleiras, entrou em cena um personagem que vegeta no meio do pontapé-na-bola, classificado fiscalmente como “empresário”, ou “agente FIFA”, cuja função é mediar a transferência dos atletas de um clube para outro. Qual é a novidade? Como o jogador Rodrigo não convinha nada sair nesta altura do campeonato e André Gomes não tem quem o queira, o “agente FIFA” arranjou quem adiantasse dinheiro à SAD ficando titular dos direitos económicos dos passes. Quando e se, os atletas forem vendidos, embolsam a diferença e repartem uns trocos pelos acionistas na proporção das suas quotas. Além disso, o figurão ganha a triplicar. Recebe comissões do comprador, do vendedor e, pasme-se, dos jogadores!
Claro que, para tornar este negócio “legal” foi necessário um Fundo com capacidade para investir em jovens promissores. E apareceu! É o Meriton Capital Limited, com sede em Hong-Kong, fundado em 2009, cuja atividade vem descrita no seu objeto comercial, como gestora de negócios e capitais.
 
O homem por detrás desta empresa chama-se Peter Lim, empresário de 60 anos natural de Singapura com ligações a Jorge Mendes. Segundo a revista Forbes, Lim é um dos homens mais ricos do seu país e é conhecida a sua vontade de investir no futebol.
O empresário tem estado na berra nos últimos anos, primeiro quando tentou comprar o Liverpool em 2012, depois o Middlesbrough em 2013 e atualmente o Valência, a quem fez uma proposta concreta e aguardava a confirmação do negócio até 15 de janeiro.
 
Segundo a agência Bloomberg, Lim iniciou a sua carreira como corretor da bolsa para clientes indonésios e começou a investir o seu dinheiro em 1996. Terá construído fortuna através do investimento na produção de óleo de palma, para além de uma cadeia de cafés do Manchester United na Ásia. Segundo a Forbes a fortuna avaliada em agosto de 2013 era de cerca de dois mil milhões de dólares.
 
Como a banca fechou a torneira à “instituição”, e os compromissos caem mensalmente na mesa do tesoureiro, tornou-se inevitável o recurso aos Empréstimos Obrigacionistas ou aos Fundos. “MAIS DIFÍCIL AINDA” gritou o regisseur do Circo da Luz! “Estes nossos amigos oferecem dinheiro, só para terem o direito de vender”! Ora bolas, digo eu. Então porque não é o clube a transferi-los diretamente e ganha 100% no negócio? Para quê o agente FIFA e o Fundo? Querem receber adiantado, claro! Sabemos que o clube acumula prejuízos há 5 anos consecutivos, e afasta-se cada vez mais da regra dos pressupostos financeiros indicados pela UEFA. Não podia esperar mais um bocadinho? A menos que utilizem a dádiva que caiu do céu para comprarem “o tal defesa-esquerdo” que continua congelado.
 
Este fim-de-semana veio à tona a péssima forma do clube da treta que nem ajudado por esse aborto do Paixão um produto com marca registada Vítor Pereira, diretor da Escola de Cãezinhos Amestrados conseguiu vencer o jogo. Serão efeitos das saídas, ou trata-se do habitual “estouro” nas segundas voltas dos clubes treinados pelo catedrático?
 
Até à próxima

Sem comentários: